sábado, 22 de fevereiro de 2014

Sobre a lembrança de um amigo...

  Triste, magoada e ferida. Lá estava eu novamente sentada, voltando ao ponto de partida, desfrutando do amargo da vida, embriagando minhas idéias e  tentando esquecer. Ao lado, no grupo de conhecidos, sua gargalhada espirituosa preenchia o ambiente lúgubre e vazio. Não recordo qual era a estação do ano, datas e essas bobagens pouco importavam, naquela noite meu objetivo foi concluído, abandonei minha sobriedade em qualquer canto e fui derrotada pra casa.Voltava todas as noites para a mesma finalidade, e a cada vez tudo ficava mais emaranhado na loucura, na míngua, na falta de fé, na escassez de senso.
  Como já era sabido por todos, a garrafa de vinho barato costuma aproximar as pessoas, e assim surgiam as amizades, os amores, as discussões e as malícias. Ali as pessoas se revelavam, viviam cada qual seus respectivos delírios, sorviam suas convicções e tragavam suas ideologias. Foi assim que você se sentou ao meu lado certa vez, e demonstrou toda sua gentileza e solicitude, como se já me conhecesse, como se fossemos amigos de longa data. Falei sobre tudo que havia me acontecido no ultimo mês, falei sobre minhas emoções, sobre minha vida, e você me correspondeu como nenhum outro "amigo" havia feito, desvelou-se em compreensão e boa vontade.
   As noites se passavam, o tempo seguia seu fado sem fim, e cada dia falávamos da vida através de aspectos divergentes porém, de modo que se completavam, como se preenchessem as lacunas. Falávamos de todos os assuntos, dos amores fracassados, que era seu assunto preferido pois você também sofria muito com recente separação e acho que por isso nos entendiamos, falávamos a mesma língua.
  Eu após algum tempo já revigorava minha esperança, nutria devagar minha confiança no mundo, já você se julgava um caso perdido, se abandonou de uma tal maneira, que até sua aparência gritava isso. Desdobrei-me para provar que você estava errado e que tudo na vida é bom de algum jeito, você havia me lembrado disso mas não acreditava.
  Certa manhã enviei-lhe uma mensagem que dizia algo parecido com:  "Fique bem, no mundo existe alguém que se importa com você, tenha um bom dia." Era minha maneira de agradecer a ajuda que me concedeu, nunca vi você tão feliz quanto naquele dia e fiquei orgulhosa por poder retribuir afinal, eu devia a restauração das minhas expectativas a você, todos os conselhos, toda a amizade disponibilizada sem pretensão de benefícios, sem maldade. Lembro que certa noite conversamos tanto e gargalhamos tanto que parecia que estávamos numa festa, nos divertimos!
  Na noite seguinte você não apareceu, ou nos desencontramos sei lá, na próxima eu também não fui, e por fim na manhã do terceiro dia sem nos encontrar no meu trabalho o telefone toca. Ouvi atentamente a recomendação do outro lado da linha que pedia por favor para que eu permanecesse controlada, eu prometi que sim, tudo bem, já aflita para saber o que havia de tão sério acontecendo. Foi então que após alguns segundos emudeci e só coloquei o telefone no gancho. Sentei-me, pálida, com um nó na garganta, sem acreditar que você havia desencarnado. Sai no fim do expediente e fui imediatamente apurar o fato, as pessoas falavam demais e eu estava certa de que era um engano. Infelizmente todos tinham a mesma versão, diziam que fora um acidente de carro que o vitimou, e que não houve tempo para socorro, partiu na hora. Fiquei atônita com tudo, e mais ainda pela descoberta de que em três meses eu nem sabia onde você morava, não sabia onde procurar sua família, não sabia nada além do seu nome, que era Aaron, que tinha uma filha e que tinha uma ex esposa que eu não sabia também onde procurar. Tentei buscar informações mas da mesma maneira que você apareceu, você sumiu! Ninguém tinha nada pra dizer a seu respeito, nenhuma pista de nada sobre você, como fumaça ou uma neblina.
  Não fui ao seu velório, não fui a sua missa, e os dias passavam numa velocidade incrível, senti muito sua ausência, mas não sofri. Não sofri por que não precisávamos disso para nada,  e foi quando eu soube que  anjos existem de verdade, e que eles não estão de asinhas voando sobre nossas cabeças com harpas e auréolas luminosas. Você foi um anjo na minha vida, um anjo barbudo, cabeludo, vestindo preto, que ria alto, falava palavrão e que tinha um coração enorme, que cabia muita bondade.
  Agora cinco anos depois, sobre aquele assunto que tanto me afligia quando nos conhecemos, nada restou. Não restou mágoa, nem culpa nem dor alguma. Sempre quis escrever sobre você, sobre nossa amizade verdadeira, sobre como sua presença foi importante, sobre como sou grata por toda ajuda. Desejei muitas vezes que você pudesse estar aqui para que eu pudesse consultar seus pontos de vista em relação a algum problema , você sempre sabia o que dizer  pra que eu tomasse a melhor atitude. Lembrar de você faz com que se acenda uma ponta de esperança na humanidade, faz ter certeza que nem tudo está perdido.

Curiosidade: Pesquisei o significado do seu nome, todos te chamavam de árabe mas se chamava Aaron
Hebráico – Forma espanhola, francesa e inglesa de Aarão, Luz resplandecente ou alta montanha elevado ou o sublime (árabe) Mensageiro.





 Sempre há um caminho !!

sábado, 3 de agosto de 2013

Sobre como minha vida está ruim...

  Sinto-me com um pedaço da alma amputada e o restante dela em frangalhos. O relógio marcando as horas, a rotina, tantas tentativas por dia tem me tomado tanto e me deixado tão cansada, meus sentimentos estão cada vez mais frios. Frios como a ponta de um  iceberg, e dependentes como a chama de uma fogueira depende de lenha para se manter viva. Descompassos incuráveis, intemperes constantes, meu museu de lembranças fracassadas a me torturar, e dos  sonhos mais doces que tive pouco consigo recordar, está tudo insipido. Minha face encontra-se desgastada, minha aparência depreciada, e meu intelecto defasado. Sinto muito medo! Medo por mim e pelos meus. Sinto a mão pesada das escolhas que fiz, e o que eu chamava de liberdade já não me pertence. A vontade de ser, o orgulho de dizer que venço qualquer batalha já não são atraentes, a impressão que tenho é de entrar na guerra vencida. Não sei onde recolher forças, nem onde recuperar minha vontade e desejo de ser mais. Estou decepcionada com a minha deprimente figura, e sei que por esse motivo algo tem que mudar.

sábado, 9 de março de 2013

Sobre fragmentos infantis ...

É... acho que tornei-me uma criança grande!
Sei lá ...
Tão triste ser uma criança que sorri de menos e se importa demais .
Repare que as avenidas não estão tão compridas,
São estreitas.
Os cômodos da casa são  menores,
o quintal diminuiu,
escassos os grãos de terra para brincadeira.
Bolinho de lama, torta na cara ... que diversão!!
A prima de chupeta , criança de corre corre ... espaço pequeno agora.
Sou grande e tudo encolheu!
Que causa é essa?
Nem sei dizer ... devo estar sofrendo de ADULTÍCE.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Sobre alguns dias...


A memória presenteia-me com velhos desafios.
Os vencidos, suados, que foram por um fio.
Preciso recordar as vezes
sentir gratidão ao "meu eu"
suplicar para que nunca permita esquece-las.
Meus planos sem fundamento
truncados pelos fracassos infinitos
indago talvez
teria minha impaciência algo a ver com isso?
Preciso retornar as vezes
convenço-me de que posso tentar
triste reconheço que permaneço no mesmo lugar.
Dias seguintes.
Dias inatingíveis.
Dias vividos .
Dias para recomeçar....





                                 


quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Sobre morrer em mim...


Pronuncio insanidades alegres ciente de suicídio.
Palavras como veneno em contra gotas,
certa de que será lento.
É a lacuna que não faço questão de preencher.
Deixe-a como corte profundo, onde quiser...
 deixe-a bem aí.
Não diga que já sabe de tudo!
O controle é só até onde se deixa levar ...
Serei sempre a estúpida sozinha,
com suas páginas incansáveis, vagando embaralhada pela noite,
desafinada com tudo dentro de mim.
Sem amigos, sem companhia, sem ninguém que eu conheça por perto.
É o único antídoto,
o único que gosto.






quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Sobre uma viagem ...

Eu quero somente o beijo bom da chegada
o abraço caloroso e o sorriso ao te ver .
Eu quero somente as mãos entrelaçadas no caminho
a paisagem verde e a estrada clara.
Quero ler um livro no sossego do silêncio
no conforto do seu ombro, sem pressa...
Eu quero somente respirar bons ares
a brisa pura, consistente de liberdade.
Quero a água fria pra bater-queixo
depois seu abraço quente para abrigar meu corpo.
Eu quero pessoas singulares, músicas incomuns, alegrias em risos extraordinários.
Quero o abraço do sol pela manhã,
que seca o orvalho do mato, suando meu rosto.
Quero a chuva também!
Banhar-me dela, ser feliz por ela cair na pele
já com o coração alagado de seu puro afeto.
Eu quero somente brindar a tranquilidade do dia
o escuro da noite, e o amor da madrugada.
Quero somente as palavras doces no brilho do seu olhar
cativa-me
embrulha-me
com todo cuidado em fantasia.
Eu quero borboletas talvez,
e vontade de voltar depois.
Quem sabe com sorte eu tenha tudo
e como um presente,
sempre relembrar nós dois.



quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Sobre o que me fazem ...

 Me castiga indiferença,
me derrama culpa enxuta
severo, indolente
me absorve e em nada culpa.
Arrepia e tira o sono
como imã a sugar
minha alma complacente
intimida a ladrar.
Apatia temerosa
entrelinhas nas avulsas
Pesarosas, inclementes
insistindo em sufocar.
Absorto, incessante
pretenso a fixar
o caminho mau trilhado
ah, se fosse adiantar!